segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

SLY & THE FAMILY STONE

Música: UNDERDOG, deles, claro!





Deu vontade de escrever sobre esta banda, porque é a música que vem me embalando há dias, desde que uma pessoa legal me deu um CD com uma coletânea deles gravada, junto com outras coletâneas do Elvis, Buena Vista...um presente! Eu já conhecia algumas músicas, mas não sabia quem era a banda. O som é ANIMAL!!!!! tenho colocado as músicas prá tocar em casa, no blog, no carro...e as pessoas perguntam que é, né??? daí catei e taí! ó, gisele! mata a curiosidez....


Sly & the Family Stone foi uma importante e influente banda norte-americana de rock formada em São Francisco, Califórnia. Ativo de 1967 a 1975, o grupo teve um papel primordial no desenvolvimento da música soul, do funk e do psicodelismo. Liderada pelo cantor, compositor, produtor musical e multi-instrumentalista Sylvester “Sly Stone” Stewart e formado por vários membros de sua família e amigos, o grupo foi também importante por ter sido a primeira banda norte-americana a ter uma formação multicultural, dando a negros, brancos, homens e mulheres papéis importantes na sua instrumentação.


Música: play that funky music.




K.C. e Alpha Stewart eram um casal ativo na comunidade religiosa (e, portanto, musical) da cidadezinha texana de Denton. Depois que a família se mudou pra Vallejo, na Califórnia, seus quatro fedelhos começaram o conjunto vocal "The Stewart Four", de inspiração e repertório gospel. Mais adiante, os dois mais velhos, Freddie e Sylvester, curtiam suas fases adolescentes fazendo parte de alguns conjuntos musicais na escola, entre eles The Viscaynes, no qual Sylvester (e um outro menino, de descendência filipina) eram os únicos membros não-brancos do grupo. Essa característica multirracial do grupo deixaria uma marca indelével no jovem, que aos 19 anos assumiu o posto de DJ numa rádio de São Francisco, mudou o nome da mesma de K-SOL pra K-SOUL em seu programa e adotou o mítico nome que o tornaria um ícone da música de todos os tempos – Sly Stone.

O tempo foi passando e houve um momento na vida em que as bandas dos manos estavam tendo direcionamentos musicais bem parecidos, o mais velho com o Freddie & The Stone Souls e o outro com o Sly & The Stoners. O sagaz saxofonista Jerry Martini gostava de ambos e deu a idéia: por que não juntar tudo na mesma panela e ver o furdunço que iria causar?

Com o mano Freddie comandando a guitarra, o mano Sly assumindo a voz e o órgão elétrico (que ele aprendera a tocar sozinho), o esperto Jerry e mais Cynthia Robinson no trompete e Gregg Errico nas bateras, foi só incluir o baixista Larry Graham à trupe, adicionar a mana caçula Vaetta (Vet) mais as colegas Mary McCreary e Elva Moulton, todas vindas de um grupo vocal gospel e que passariam a ser conhecidas indistintamente como Little Sister. Há exatos 40 anos, em 1967, nascia o Sly & The Family Stone.

A banda já nasceu com duas fortes marcas no seu DNA artístico, que a acompanhariam por toda a sua existência – polêmica e revolucionária. Foi a primeira grande banda multirracial e polissexual da história, unindo negros/negras e brancos em torno de dar uma nova forma musical à ideologia em voga na época; era do entendimento de Sly que a mensagem seria mais bem aceita se não houvesse nenhum tipo de barreira social entre os integrantes, pelo menos não a pior delas. Pra ele, falar de ideais de paz e amor fraternal sem uma integração verdadeira era como jogar palavras ao vento, algo que a maioria dos artistas hippies faziam – isso quando cada raça não estava voltada pro próprio umbigo.


Se os brancos eram contra a Guerra do Vietnã, os negros tinham muito mais do que se queixar e protestar; eram tempos bem difíceis pros negros norte-americanos, que haviam há poucos anos conquistado direitos simples como usar os mesmos banheiros ou sentar-se nos mesmos lugares nos ônibus que os brancos. O primeiro single foi lançado no final do mesmo ano, e "I Ain't Got Nobody" virou um sucesso regional logo após o seu lançamento, o que fez a CBS-Epic crescer o olho e contratar a banda. O primeiro disco foi lançado no final do mesmo ano, e A Whole New Thing conquistou aclamação da crítica especializada e até de músicos como Tony Bennett, que previu que aqueles caras "poderiam mudar a música do jeito que a conheciam até então". Não era por menos, já que desde a faixa de abertura ("Underdog"), o que se ouvia nos sulcos daquele vinil era algo totalmente novo, como o título do disco sugeria; era a primeira vez que alguém resolveu misturar os dois ritmos negros jovens (rock e soul) em um só caldeirão daquela maneira tão intensa e, ao mesmo tempo, suingada. Impressionava o fato de que o trabalho fora todo gravado ao vivo no estúdio, sem o uso de overdubs de nenhuma faixa sequer; até os dias de hoje, é espantoso o fato de músicas elaboradas como "Trip To Your Heart" e "Advice" tenham sido gravadas de uma tacada só, algo que a banda não faria da mesma maneira outra vez. Era coisa de gênio, mesmo que ainda não reconhecido pelo público; isso porque as vendas não acompanharam o sucesso de crítica, e a CBS "sugeriu" que a banda deixasse o seu "soul psicodélico" mais palatável e fizesse um produto mais comercial. A forte personalidade de Sly engoliu aquele sapo meio que a seco, sendo lentamente digerido e posteriormente expelido no ano seguinte sob a forma do primeiro grande sucesso comercial do grupo.





DANCE TO THE MUSIC




DANCE TO THE MUSIC

Se sucesso é o que os bosses queriam, então sucesso foi o que eles tiveram. Com o nariz torcido e cheio de má vontade, Sly compôs músicas com uma direção mais "pop", por assim dizer, mirou no que viu e acabou acertando no que sequer imaginava. Isso porque se existe algum disco que possa ser intitulado como "a pedra filosofal do funk", esse foi Dance To The Music. A faixa-título subiu feito um foguete nas paradas, colocando a banda pela primeira vez entre os maiorais da Billboard, e até hoje faz sucesso quando é tocada nas baladas. Sly conseguira o feito de passar a sua mensagem de paz, amor fraternal e anti-racismo sob a forma de músicas que se encaixariam com perfeição às expectativas musicais do público da época. O revezamento de vocais caiu no gosto geral – ora cada um dos músicos cantava um trecho da música, ora Sly assumia a voz principal enquanto os outros faziam o backing. Essa inovação, aliada aos alternados solos dos instrumentistas em todas as faixas, fizeram o álbum ser consagrado como um divisor de águas na música negra, quando os maiores artistas do gênero resolveram adicionar doses do "soul psicodélico" da Família em suas composições. Não era gente qualquer: The Temptations e os Four Tops adaptaram às suas maneiras a nova nuance musical. Também os então novatos Jackson 5 mostravam um suíngue e visual muito influenciados por Sly & sua turma. O tema de elevação espiritual pintou pela primeira vez em "Higher", e a melhor sugestão pra quem quisesse acompanhar a evolução musical da banda era a analogia que vinha em "Ride The Rhythm" – cavalgue no ritmo. A ousadia foi tão grande a ponto deles negarem o próprio sentimento do amor em "I'll Never Fall In Love Again", pelo menos o vazio ideal de "amar por amar, bicho", tão usado pelos ripongas. Em um outro clássico automático da bolacha, "Are You Ready?", Sly foi bem profético ao questionar se o seu público estaria pronto pras mudanças radicais que estavam prestes a acontecer, tanto em suas vidas em particular quanto no país de origem e no mundo de um modo geral.






Everyday People

No final daquele mesmo ano de 1968, a banda lançaria um outro petardo em forma de LP, Life, no qual teria uma direção musical completamente diferente da tomada no disco anterior. Sly assumiu os vocais quase que exclusivamente, e embora as músicas ainda tivessem sessões rítmicas incomuns e letras inspiradas, não fizeram que o disco repetisse o sucesso de vendas do antecessor.

A viagem na maionese incluiu uma "adaptação" de "Eleanor Rigby", dos Beatles, em "Plastic Jim" – que foi composta, aliás, pra entrar num concurso de versões do clássico dos Fab Four... Ao lado dessa, odes à diversão, harmonia e vida ("Fun", "Harmony" e a faixa-título), além das gozações de "Jane Is A Groupee" e "I'm An Animal".

A época do lançamento de Life coincidiu com a primeira tour inglesa da banda, encerrada precocemente depois que Larry Graham foi preso e deportado por posse de maconha. Nesse ponto, teria início uma outra característica que faria parte da história da banda: os altos-e-baixos devido ao envolvimento de alguns com drogas.

Mas esse fato seria obscurecido pelo lançamento de "Everyday People", o libelo anti-racista que se tornaria a primeira música da banda a atingir o número 1 das paradas norte-americanas. Vem dela o verso "different strokes by different folks", que seria uma espécie de lema da banda daquela fase – algo como "batidas diferentes por gente diferente". A canção seria o carro-chefe de Stand!, lançado em meados de 1969.A temática da citada música, comum a "Don't Call Me Nigger, Whitey" (com os versos "não me chame de crioulo, branquelo / não me chame de branquelo, crioulo") e aliada aos hinos "I Wanna Take You Higher" e "You Can Make It If You Try", fizeram o álbum vender mais de 3 milhões de cópias nos EUA, elevando Sly & The Family Stone ao tão sonhado e perseguido estrelato.





O sucesso retumbante foi o passaporte da banda pro maior evento musical do ano, e talvez daquela era: o Festival de Woodstock. A manhã do dia 17/8 viu Sly & Cia fazerem um dos três melhores shows daquele festival, e botarem uma multidão de cerca de 400 mil chapados a cantar a plenos pulmões "I Wanna Take You Higher". No filme do festival, confira: essa é a única música mostrada que foi cantada em uníssono pela imensa galera bicho-grilo.

Era a consagração. A partir de Woodstock, uma ficha caiu pra Sly – ele poderia fazer o que quisesse de sua música e com a sua vida. E isso foi algo que ele não pensou duas vezes em fazer, do jeito extremo que o caracteriza.



Era evidente que toda a revolução sônica causada pela banda faria sucesso qualquer hora, e era de consenso geral que a apresentação em Woodstock elevaria de vez a carreira do grupo. Mas todo bônus traz o seu ônus... A década de 70 começou trazendo mudanças nem um pouco positivas ao grupo, começando pela desarmonia entre os membros da família Stone (Sly, Freddie, Vet e agora Rose) com o baixista Larry Graham; esse último viu que o momento de consolidar a carreira da banda estava sendo deixado pra trás em detrimento de outras carreiras – de cocaína, PCP & tudo aquilo que se pudesse imaginar de drogas em que a banda passara a mergulhar fundo. Sly passou a "se achar" demais, deixando de ir a inúmeros shows e transformando em imprevisíveis quaisquer apresentações em shows de TV. A mudança de Sly & trupe de SF pra LA também contribuiu pro estremecimento das relações de um modo geral, pois essa não havia sido só uma mudança de cidades, mas sim de amizades, atitudes e de drogas. Assim, a produtividade caiu pra perto do zero, sendo apenas lançado o single "Thank You (Falletinme Be Mice Elf Agin)" / "Everybody Is A Star" em um ano, que, mesmo tendo sido um sucesso, era insuficiente pra gravadora continuar promovendo a banda decentemente. Foi aí que a CBS lançou o Greatest Hits, bem como as reimpressões dos três discos anteriores com capas novas pra satisfazer ao público que se encontrava ávido pra consumir qualquer coisa que tivesse o nome de Sly. Mas algumas feridas haviam sido infligidas de maneira muito profunda, e o baterista Gregg Errico pediu o boné e foi tocar noutra freguesia, sendo substituído por Gregg Gibson.

Quando a banda resolveu voltar a compor, tudo havia mudado; a musicalidade ainda era dançante mas já não tinha aquele cheiro de frescor da manhã, muito pelo contrário; o tom passou a ser mais soturno, ainda muito dançante mas com letras menos alegres, no mínimo. Ao agradecer ao público por permitir que voltasse a ser ela mesma no single, a banda deu uma guinada temática e deixou os ideais de "paz-e-amor-fraternal" pra trás – e passou a botar o dedo revestido de sal grosso nas feridas sociais. Sly havia desprezado a pressão dos Panteras Negras em substituir os outros brancos da banda (Martini e o empresário David Kapralik), mas não estava nada alheio ao que acontecia à sua volta. E foi nesse clima meio que sinistro que ironicamente foi lançado o maior sucesso da banda de todos os tempos, "Family Affair", que os levou direto ao topo das paradas, junto com o álbum There's A Riot Goin' On.



Pra se ter uma idéia da beligerância de Sly & Cia em Riot, o título foi escolhido como uma resposta ao grande sucesso daquele 1971, o clássico "What's Going On", de Marvin Gaye; outros hits do álbum seriam "(You Caught Me) Smilin'" e "Runnin' Away". Entre os músicos convidados utilizados nas gravações, estavam Ike Turner, Billy Preston e Bobby Womack.

O clima pesou de vez logo após o lançamento do álbum. Jerry Martini questionou o tamanho de sua fatia no bolo, e viu a banda contratar o saxofonista Pat Rizzo pra ficar de prontidão. O caldo entornou entre Sly e Larry Graham, que já vinham se estranhando, e o último largou a banda após uma discussão pós-show quando sua trupe foi espancada pela trupe de Sly.

Após um período tendo o amigo Womack quebrando um galho no baixo, o então novato Rusty Allen se juntaria à banda em 1972. Mas as coisas não seriam mais as mesmas musicalmente, algo que ficaria evidente nos álbuns que sucederiam a Riot.





O sucesso de "If You Want Me To Stay" – uma irônica ode à canalhice masculina, que muita gente levou a sério - conseguiu dar uma levantada nas vendas de Fresh, hoje em dia considerado um divisor de águas na história da música por ser considerado um dos maiores álbuns de funk já lançados. Curiosamente, foi nesse considerado como o último grande álbum da banda que ela gravou a sua único cover, a melosa "Que Será, Será", imortalizada na voz de Doris Day.

A casa caiu em 1974. Muito embora as músicas "Time For Livin'" e "Loose Booty" tivessem tido execução razoável em rádios e assumido colocações decentes nas paradas, o álbum Small Talk não obteve boas críticas, uma novidade na carreira dos músicos. Junte-se a isso o histórico de shows cancelados e/ou precocemente encerrados devido ao constante estado deplorável de Sly (isso quando ele aparecia pra tocar), e o resultado não poderia ter sido outro senão a dissolução do grupo.

O último show de uma formação de Sly & The Family Stone aconteceu numa noite melancólica de janeiro de 1975, depois que o alucinado bancou do próprio bolso uma apresentação no Radio City Music Hall – e a banda depois teve de contar os trocados pra voltar pra casa, já que pouco mais de 10% dos ingressos foram vendidos. Antes de o avião chegar à Califórnia, já não havia mais uma Família Stone.

Depois disso, Sly ainda gravaria os álbuns solos High On You (1975), Heard You Missed Me – Well, I'm Back (1976), Back On The Right Track (1979) e Ain't But The One Way (1983), que não chegavam às solas dos pés de seus trabalhos anteriores. Ele ainda fez show com gente como o Funkadelic, Bobby Womack e The Bar-Kays e esporádicas participações especiais até 1987, quando foi preso mais uma vez por porte de cocaína. Depois disso, Sly encheu o saco do show business e decidiu retirar-se de cena.



( in http://www.portalrockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1907)



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